Mandela Washington Fellowship, uma experiência de vida

Jesus Kiteque (JK)
5 min readOct 3, 2017

Em Março deste ano recebi o e-mail de confirmação da minha selecção para o Mandela Washington Fellowship, depois de ter feito a aplicação em Outubro do ano passado. Foi o início de uma jornada incrível que é fazer parte desta imensa e incrível rede que é a Young Africa Leadership Initiative (YALI).

O Mandela Washington Fellowship para Jovens Líderes Africanos é o principal programa da iniciativa YALI, lançado em 2014 pela administração do ex. presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. O objetivo do programa é reforçar o compromisso dos EUA de promover o diálogo bidireccional entre os Estados Unidos e a Juventude Africana, levando em consideração que aproximadamente 60% da população total de África é menor de 35 anos e quase um em cada três africanos tem entre 10 e 24 anos, pelo que desempenham e continuarão a ter um papel fundamental no desenvolvimento do continente.

O programa consiste em conectar empreendedores, educadores, activistas e inovadores com recursos dos EUA e a eles mesmos. Isso acontece por intermédio de cursos académicos, treinamento de liderança e eventos de network.

Desde o início do programa em 2014, o processo de selecção tem-se tornado cada vez mais competitivo. Tem início com uma aplicação online, que é seguida por uma entrevista realizada na Embaixada dos EUA nos respectivos países, para aqueles que passam à primeira fase. Este ano, 1.000 pessoas foram seleccionadas de um total de 64.000 aplicações de toda África Sub-Sahariana. Os candidatos seleccionados devem ter entre 25 e 35 anos, falar Inglês e terem demonstrado algum registo de contribuição para a melhoria de suas comunidades locais por intermédio de diferentes tipos de iniciativas.

Após a selecção, os jovens viajam para os EUA em meados de Junho onde participam de um programa académico e profissional de seis semanas em algumas das mais prestigiadas universidades dos EUA. O programa envolve 3 áreas de formação: Negócios e Empreendedorismo, Gestão Pública, e Liderança Cívica. Os candidatos inscrevem-se em uma delas. Durante as seis semanas, os alunos participam de aulas académicas, visitas a algumas das maiores empresas dos EUA e Startups, Organizações não Governamentais, Instituições Política e não só, onde podem aprender e experimentar o que é ensinado nas aulas. Participam igualmente de serviços comunitários, actividades sociais e culturais e diversos eventos de network.

Eu tive o privilégio de ser seleccionado para o Universidade de Dartmouth, uma das Escolas Ivy League (grupo das 8 Universidades mais prestigiadas e selectivas dos EUA, onde fazem parte além de Dartmouth, as Universidade de Harvard, Yale, Princenton, Pennsylvânia, Columbia, Brown e Cornell). Dartmouth é também a casa da Thuck Business School, consistentemente uma das melhores escolas de negócios do mundo. A Universidade está situada na pequena cidade de Hanover, no estado americano de New Hampshire. Eu inscrevi-me para o programa de Negócios e Empreendedorismo. Fomos 25 jovens de 19 países de África em Dartmouth.

Durante o programa, estivemos expostos aos melhores recursos que Dartmouth tem disponível no campus e interagir com diferentes escolas, institutos e laboratórios. O programa começou com aulas de Design Thinking na Escola de Engenharia Thayer, onde pudemos aplicar Design Thinking no desenvolvimento de soluções para desafios que qualquer tipo de negócio e indústria enfrenta. A segunda fase foi no Laboratório de Inovação de Dartmouth, onde aprendemos a criar soluções inovadoras e como incorporar inovação na cultura das empresas. Seguiram-se as sessões de Design Driven Entrepreneurship, onde aprendemos a usar a metodologia de Human Centered Design(Desenho Orientado para Necessidades Humanas), para identificar oportunidades ou problemas existentes e criar soluções de negócios, produtos ou serviços que atendam às necessidades reais que as pessoas enfrentam. Essas aulas foram semanalmente complementadas com sessões de liderança com diferentes moderadores, seminários sobre técnicas de negociação e habilidades de apresentação ou comunicação em público.

As visitas de campo incluíram empresas como Procter and Gamble, Timberland, Ben & Jerry’s, Google e Coworking Spaces, onde interagimos com diferentes startups. Regularmente participamos de eventos de networking com investidores, empresários, graduados de Harvard, políticos e famílias locais, o que nos ajudou a sentirmo-nos verdadeiramente parte da comunidade. Todas estas actividades levaram-nos a visitar os Estados de Massachussets, New Hampshire, Vermont, Connecticut, New York e Washington.

Os integrantes do programa foram sempre incentivados a trabalhar em grupo no desenvolvimento de ideias que resultaram em planos de negócios e que foram apresentados, tanto a meio como no final do programa, a um painel de júris constituído maioritariamente por investidores.

O programa terminou com uma cimeira em Washington, onde durante 4 dias os cerca de mil jovens tiveram a oportunidade de interagir entre eles após as seis semanas separados em diferentes universidades, como também com diferentes empresas e instituições sem fins lucrativos. Durante a semana em Washinghton aconteceram ainda diversas palestras, encontros e conversas de ngócios, bem como almoços e jantares de netwroking.

No final do programa, foi unânime o sentimento de que, muito além da rica experiêcia que foi conhecer e interagir com a cultura norte-americana, tanto académica, social como de negócios, o facto de ter podido conhecer melhor o continente africano e jovens à volta dele que têm feito coisas incríveis e contribuído para a mudança da realidade das suas comunidades, países e o continente no geral, não obstante as dificuldades que enfrentam, foi o maior ganho deste programa. Eu tive a oportunidade de conhecer pessoas incríveis e alguns deles com certeza serão amigos para sempre. Deixámos todos os EUA bastante inspirados e com variadas ideias de colaborarmos entre os países em projectos que visam impactar de forma positiva as nossas comunidades.

Não deixa de ser um paradoxo, termos de sair do continente para melhor conhecer sobre ele. No entanto, foi sem sombras de dúvidas, uma experiência marcante para o resto da vida.

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Jesus Kiteque (JK)

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